Em público,
sob o olhar atento da grande imprensa nacional, Michel Temer e Rodrigo Maia se
declaram aliados, dispostos a darem continuidade ao atual modelo político
brasileiro e de trabalharem a quatro mãos para a aprovação das reformas
propostas pelo governo federal.
Apesar desse
aparente clima de fidalguia que tentam passar para a opinião pública, na
verdade, um não confia no outro e, cada um ao seu modo, traçam estratégias para
um possível e provável enfrentamento que os levarão, certamente, a trincheiras
distintas.
Temer pretende
continuar ocupando o posto de presidente da república, que herdou graças ao
impeachment de Dilma, e precisa contar com a boa vontade de Rodrigo Maia,
principalmente, quanto ao destino dos vários pedidos de impeachment contra ele
que repousam na mesa do presidente da Câmara dos Deputados e no encaminhamento
da votação dos pedidos de autorização para abertura de processo no Supremo Tribunal
Federal (STF), propostos pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Já Rodrigo
Maia acredita que, se Temer foi condenado pelo STF, ou venha a ter o seu
impeachment decretado pelo Congresso Nacional, a sua chance de ser eleito pela
via indireta, como, aliás, sustenta o presidente em exercício do PSDB, senador
Tasso Jereissati, para concluir o mandato presidencial iniciado em janeiro de
2015 é muito grande.
A recente
“disputa” pelos parlamentares que deverão deixar o Partido Socialista
Brasileiro (PSB) dão uma mostra clara de que os dois políticos, apesar de
negarem, estão em franca disputa.
Logo que tomou
conhecimento da investida de Rodrigo Maia sobre os deputados federais dispostos
a sair do PSB, capitaneados pela líder do partido na Câmara dos Deputados, a
deputada Teresa Cristina, do Mato Grosso do Sul, Michel Temer partiu para o
contra-ataque.
Rodrigo Maia
trabalha para aumentar a bancada do seu partido, o Democratas (DEM), tornando-o
a terceira força política na Câmara dos Deputados, e o ingresso dos parlamentes
oriundos do PSB daria uma boa ajuda, mas Temer agiu rápido e foi ao encontro da
líder do partido, com o objetivo claro de “melar” as pretensões de Maia.
Numa conversa,
fora da agenda oficial, realizada no apartamento funcional da deputada Teresa
Cristina, Temer ofereceu o seu partido, o PMDB, para abrigar os descontentes do
PSB, além de outras benesses mais que, por razões óbvias, não chegaram ao
conhecimento público.
A queda de
braço estabelecida entre os dois tende a se acentuar na medida em que se
aproximar a data para os deputados federais votarem o pedido de autorização
para o STF processar Michel Temer.
E como o que
está em jogo é, pelo menos em tese, o exercício do cargo de Presidente da
República, o deputado Rodrigo Maia, ainda que declare lealdade ao atual
ocupante, poderá trabalhar nos bastidores para conseguir os votos necessários à
concessão da autorização, o que seria o fim de Michel Temer.